Caatinga: Muito além de clima semiárido e solo seco 

 

Apesar de possuir o estereótipo de ambiente inóspito, com clima seco e quente, solo rachado e pobre em vida, a Caatinga surpreende ao revelar que na realidade, é uma incrível maravilha da natureza, bela e rica em sociobiodiversidade. Do tupi ka’a + tinga que significa Mata Branca, os limites da Caatinga se encontram totalmente dentro do país, e divide-se em várias ecorregiões com características distintas. É recorrente considerar a Caatinga como exclusivamente brasileira, porém, na realidade, ela faz parte de uma área maior dentro de um domínio biogeográfico que inclui diversas florestas secas em toda a América Latina Intertropical (Leia mais sobre o assunto nesta reportagem). Esse fato por si só, já a torna especial, porém as maravilhas da Caatinga vão além dessas características. Neste post convidamos você a descobrir o que torna este ecossistema um lugar tão admirável.

Paisagem da Caatinga. Foto: Arquivo Programa Amigos da Onça

A paisagem da Caatinga, também diferente do que é comumente pensado, não é homogênea. Ela possui uma variedade de vegetações (conhecidas como fitofisionomias), por isso tratamos também por “caatingas”, no plural. Caatinga arbórea, caatinga  arbustiva, mata seca e carrasco, são algumas das vegetações presentes neste bioma.

As condições adversas presentes nas caatingas não foram impedimento para que suas formas de vida se adaptassem com sucesso. A grande variedade de flora e fauna, e a  maneira como ressurgem a cada passagem do período de seca, fazem do bioma um lugar mágico.

A flora da Caatinga, por exemplo, tornou-se adaptada à escassez de água, algumas espécies a armazenam em seus tecidos, como os cactos, outras possuem um sistema radicular extenso para busca de água, como as plantas xerófitas, que são marcantes em sua paisagem. E também há as espécies que perdem as folhas na época da seca.

 

Cacto Xique-xique (Pilosocereus gounellei). Foto: Carolina Esteves/Programa Amigos da Onça. 

Sua fauna abriga uma grande variedade de espécies de mamíferos, répteis, aves, anfíbios, além de uma ampla gama de invertebrados. Dentre essa diversidade faunística, inúmeras espécies são únicas desse habitat. Assim como a flora, estes animais também detêm estratégias adaptativas, como as migrações e ajustes do organismo para lidar com o calor. Confira algumas das espécies endêmicas da Caatinga:

Arara-azul-de-lear. (Anodorhynchus leari) Foto: Cláudia Brasileiro

Mocó (Kerodon rupestris). Foto: Arquivo TG/G1. 

Soldadinho-do-araripe (Antilophia bokermanni) Foto: Ciro Albano. 

Essa variedade de flora e fauna configura a Caatinga como a floresta sazonalmente seca mais biodiversa do mundo. Confira no final do post algumas imagens que participaram do Concurso de Fotografias em homenagem ao Dia da Caatinga – realizado pelo Programa Amigos da Onça, e representam um pouco da beleza e dos encantos da biodiversidade  deste bioma.

Além da riqueza de flora e fauna, no território da Caatinga vivem também 27 milhões de pessoas, que dependem dos seus recursos naturais para sua sobrevivência (MMA., 2019). Um bom exemplo é a árvore marcante da Caatinga, a Carnaúba, que fornece matéria-prima para os mais diversos produtos, como cera, óleos e produtos farmacêuticos. Outras plantas são também utilizadas com fins medicinais, de alimentação, artesanato e também para construção. Outro exemplo é a espécie nativa Caroá, utilizada na manufatura de cordas e barbantes, e o tão conhecido no Nordeste, Umbuzeiro, árvore frutífera endêmica de relevante importância econômica para o local, utilizada para venda dos frutos, geleias, dentre outros (MELO E  VOLTOLINI, 2019).

Este bioma  apresenta também um importante legado cultural. Os moradores da Caatinga presentes há gerações, criaram formas de conviver com as intempéries singulares do bioma. Conhecimento a respeito de plantas medicinais, práticas  agrícolas e de pastoreio voltadas para falta de água, são transmitidas ao longo  das gerações. Estas comunidades aprenderam a viver na Caatinga, cuidando e  explorando seus recursos, criaram uma relação íntima com a paisagem de uma forma peculiar, configurando-se valioso patrimônio cultural do nosso país.

Comunidade local da Caatinga. Foto: Carolina Esteves/Programa Amigos da Onça. 

Apesar de todos os encantos da Caatinga, a exploração desequilibrada dos seus  recursos naturais, desmatamento e mudanças climáticas têm ameaçado este  ecossistema. Inclusive, no relatório do IPCC (Painel Intergovernamental das Alterações Climáticas, em inglês) de 2022, o Nordeste do Brasil, principalmente a região da Caatinga, tem sido uma das regiões do mundo mais impactadas com as mudanças climáticas (Saiba mais aqui). Alguns estados nordestinos, como Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Bahia, enfrentam o processo de desertificação. A ocupação inadequada do solo, a remoção da vegetação natural, aliados ao clima seco e quente, contribuem para a degradação extrema. Isso resulta na perda de habitats, ameaça a espécies e gera impactos socioeconômicos, muitas vezes irreversíveis.

Por isso é fundamental que todos nós nos preocupemos com a conservação da  Caatinga, de maneira a garantir que esse inestimável ecossistema possa  continuar existindo e fornecendo subsídios e benefícios para a comunidade local e todo o país.

 

Escrito por: Alice M. G. Dórea (Estagiária voluntária do PAO)

 

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