Dia Nacional da Onça-pintada – 29 de novembro

 

Em 2018, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) instituiu através de uma portaria, o dia 29 de novembro como o Dia Nacional da Onça-pintada. Essa iniciativa representou um marco para a conservação do maior felino das Américas, pois, além de reconhecer a onça-pintada (Panthera onca) como Símbolo Brasileiro da Conservação da Biodiversidade, reforça a importância ecológica, econômica e cultural da espécie e incentiva a divulgação e o desenvolvimento de estratégias voltadas à sua conservação.

 

Onça-pintada (Panthera onca). Foto: Larissa Pantanal

Jaguar, jaguaretê, canguçu, onça-pintada – esses são alguns dos nomes pelos quais esse admirável animal é conhecido pelo Brasil. A onça-pintada é o maior carnívoro da América do Sul, o terceiro maior felino do mundo e o único representante do gênero Panthera (que inclui leões, leopardos e tigres) no continente americano. Distribuída em quase todos os biomas do Brasil – com exceção do Pampa, onde já foram extintas – a onça-pintada tem grande importância ecológica. Ao ocupar o topo da cadeia alimentar, sua presença é vital para o equilíbrio dos ecossistemas, regulando o tamanho populacional de outras espécies animais. Além disso, é considerada espécie guarda-chuva, pois como precisam de áreas extensas para sua sobrevivência, sua conservação beneficia também uma variedade de outras espécies que compartilham seu ambiente. Sua presença em determinada região também é indicativa de condições ambientais favoráveis (PORFIRIO, 2019). Assim, a conservação dessa espécie, que infelizmente está classificada na categoria “vulnerável” na última lista do Ministério do Meio Ambiente (2022), protege também outros animais que coexistem no mesmo ecossistema.

 

Distribuição da onça-pintada por bioma no Brasil (Dados de 2018). Imagem: MMA/2018

Nesta data especial, queremos relembrar com vocês os resgates da onça-pintada Luísa, cuja história representa intensamente a luta pela sobrevivência desses grandes felinos nas diversas regiões do país. Sim, foram necessários dois resgates para salvá-la!

Tudo teve início quando a onça-pintada de uma região da Caatinga, posteriormente batizada de Luísa, abateu uma ovelha pertencente a um criador local para se alimentar, e alguns moradores da comunidade, por medo e desinformação, perseguiram a onça confinando-a em uma caverna. Alguns habitantes sensibilizados com a situação do animal, avisaram a bióloga Cláudia Campos, que, na época, coordenava o Programa Amigos da Onça (hoje, gestora das Unidades de Conservação do Boqueirão da Onça e da Ararinha Azul/ICMBio e colaboradora externa do PAO). Cláudia, por sua vez, mobilizou uma equipe para realizar o resgate, em uma expedição que percorreu 325 quilômetros, e cuja a entrada do túnel da caverna havia sido fechada por moradores. 

A operação de resgate apresentou desafios significativos, dado o local de difícil acesso e a presença abundante de colmeias de abelhas. Após 22 dias de aprisionamento, Luísa foi resgatada com sucesso ao entrar na caixa estrategicamente posicionada na caverna. No entanto, encontrava-se bastante desnutrida.

Caixa de contenção construída exclusivamente para o resgate de Luísa. Foto: Arquivo Programa Amigos da Onça

Luísa na caixa de contenção após seu primeiro resgate. Foto: Arquivo Programa Amigos da Onça

Devido ao seu estado, Luísa foi encaminhada ao recinto do Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS) do Cemafauna/UNIVASF, onde passou por um mês em tratamento. Na ocasião,  estimou-se sua idade entre 11 e 12 anos e observou-se que tinha muitos dentes gastos e outros quebrados. Ficou sob cuidados e observação por dois meses antes de ser devolvida à mata nativa onde vivia, com uma coleira de GPS para monitoramento.

Dados do radiocolar que as pesquisadoras do PAO utilizavam para saber a posição e o deslocamento da onça Luísa. Imagem: Arquivo Programa Amigos da Onça

Em paralelo aos cuidados com Luísa, a equipe do PAO realizou visitas frequentes à comunidade envolvida no caso, informando aos moradores sobre o resgate, e orientando-os  com o objetivo de promover a coexistência mais harmônica com as onças, e evitar possíveis conflitos futuros. Após quatro meses da soltura, Luísa foi observada novamente na área onde os rebanhos eram soltos, e a equipe implementou diversas ações, incluindo o uso de métodos para afastá-la, como sons e fogos de artifício. Porém, algum tempo depois, outro morador teve seu rebanho atacado por Luísa, e informou que a onça estava presa novamente em uma caverna, e Cláudia novamente movimentou uma equipe para o segundo resgate. Luísa foi resgatada depois de 15 dias de aprisionamento, também debilitada, encaminhada novamente ao CETAS do  Cemafauna, onde foi diagnosticada com infecção bucal grave. 

Após tratamento, a equipe verificou que por conta da idade avançada e suas condições físicas, não seria possível devolvê-la à natureza. A onça-pintada foi, então, encaminhada ao Instituto NEX, onde permaneceu aos cuidados devidos. Infelizmente, em novembro de 2021, ela faleceu de causas naturais, aos 15 anos de idade. Deixando-nos com saudades, mas com a certeza de que estamos no caminho certo, pois foi perceptível o resultado positivo das ações do PAO após o primeiro resgate, refletido na mudança de comportamento de alguns moradores locais que inclusive cooperaram junto à equipe no momento do segundo resgate de Luísa.

Luísa no Instituto NEX, onde viveu após seu segundo resgate. Foto: Arquivo Programa Amigos da Onça

Você pode conferir mais detalhes da história do primeiro resgate de Luísa no documentário abaixo:

 

E assim, neste Dia Nacional da Onça-pintada, esperamos que a história de Luísa, esta encantadora onça sertaneja, exemplo de força e resiliência, sirva de inspiração para todos nós continuarmos a luta pela conservação desses animais e de seus habitats naturais, ressaltando a importância da coexistência entre a fauna e as comunidades locais para um futuro sustentável.

 

Escrito por: Alice M. G. Dórea (Estagiária voluntária do PAO)