Conheça as presas naturais das onças na Caatinga

 

Uma das maravilhas da Caatinga é a sua rica diversidade de fauna. Este bioma, muitas vezes subestimado, abriga uma grande variedade de espécies de mamíferos, répteis, aves, anfíbios, além de uma extensa gama de invertebrados. É nesta riqueza de fauna que se encontram as presas naturais da onças sertanejas.

A onça-pintada e a onça-parda são animais com dieta carnívora, ou seja, alimentam-se exclusivamente de carne. São animais de topo de cadeia alimentar e atuam como importantes reguladores dos ecossistemas que habitam. Uma curiosidade: Você sabia que a técnica de abate dessas duas espécies de onças é diferente? Enquanto a onça-parda em geral abate a presa mordendo o pescoço levando à asfixia, a onça-pintada morde o animal na base do crânio, atrás do pescoço ou abatem mordendo o focinho.

Formas de caça da onça-pintada e da onça-parda. Fonte: Guia de convivência: Onças do Iguaçu (Projeto Onças do Iguaçu, 2018)

 

Queixadas, catetos, mocós, cutias, tatus e até tamanduás são algumas das presas naturais das onças da Caatinga. Em estudos sobre a dieta das onças da Caatinga, foram verificadas algumas espécies de presas mais recorrentes: tatu-galinha (Dasypus novemcinctus), tatu-peba (Euphractus sexcinctus), veado-catingueiro (Subulo gouazoubira), caititu (Dicotyles tajacu), preá (Cavia aperea), tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla), mico-estrela (Callithrix jacchus), bugio-preto (Alouatta caraya), macaco-prego-robusto (Sapajus sp.), gambás (Didelphis sp.), capivara (Hydrochoerus hydrochaeris), cutia (Dasyprocta sp.) e mocó (Kerodon rupestris). Saiba mais sobre os estudos: Preliminary findings of puma (Puma concolor) diet and livestock depredation in the Brazilian Caatinga e Dados preliminares da dieta de onças-pintadas (Panthera onca) e onças-pardas (Puma concolor) da região do Boqueirão da Onça.

Infelizmente muitas dessas espécies estão ameaçadas de extinção. Algumas presas como a anta já foram extintas na Caatinga.  Isso tem acontecido pois esses animais estão expostos cada vez mais à fragmentação de habitat, caça ilegal, ações antrópicas, e às mudanças climáticas, o que ameaça não apenas suas populações, mas também o equilíbrio dos ecossistemas. E a diminuição desses animais têm levado as onças a se aproximarem das comunidades do sertão, predando os animais de criação doméstica, resultando em caça por retaliação por parte dos criadores. Por isso, em um programa de conservação das onças, é imprescindível também que haja ações de conservação para suas presas naturais.

 

Onça-parda (Puma concolor). Foto: Programa Amigos da Onça.

 

Vamos falar um pouco sobre alguma das espécies que estão ameaçadas de extinção na Caatinga e sobre a anta que infelizmente já foi extinta no bioma: 

 

Queixada (Tayassu pecari)

Estado de conservação: Vulnerável (ICMBio, 2014)

Outros nomes populares: Porcão, porco-do-mato, pecari

Grupo de queixadas. Foto: Conexão Planeta

São animais de hábitos diurnos, sendo mais ativos no início da manhã e no final da tarde, porém podem forragear ao longo da noite em períodos de lua cheia. Vivem comumente em bandos, e a depender do bioma onde habitam podem chegar a atingir uma área de 19 a 200 km² para um único grupo, com centenas de animais. 

A gestação dura, em média, um período de 250 dias, e a ninhada é de 1 a 2 filhotes. É uma espécie que realiza grandes deslocamentos, por isso possui um grande fluxo gênico entre as populações. Esses mamíferos são muito importantes para os ecossistemas, atuando como predadores e dispersores de sementes. São frugívoros, sendo sua dieta composta de frutos, sementes e raízes. 

Na Caatinga, por causa de ações antrópicas como desmatamentos, alteração de habitat e caça, acredita-se que a população diminuiu em 30% entre 1994 e 2012 (três gerações) e pode vir a sofrer uma redução de mais 30% até 2030.  Fonte: Revista Biodiversidade Brasileira/ICMBio (2012).

 

Anta (Tapirus terrestris)

Estado de conservação: Vulnerável (ICMBio, 2014)

Outros nomes populares: Anta brasileira

Anta, maior mamífero brasileiro. Foto: Conexão Planeta

A anta é o maior mamífero terrestre brasileiro. São animais com hábitos noturnos, descansam durante o dia, e saem durante a noite para forragear. Alimentam-se principalmente de folhas, fibras e frutos. O período de gestação dura de 13 a 14 meses, e gera apenas um filhote, fato que deixa a espécie muito vulnerável aos impactos ambientais. Na Amazônia a espécie foi classificada como “menos preocupante” por ter maiores chances de conservação, entretanto nos biomas Mata Atlântica e Cerrado é classificada como “em perigo”. Na Caatinga, que dispunha de 5,8% da distribuição geográfica da anta brasileira, esta espécie infelizmente está extinta. Fonte: Revista Biodiversidade Brasileira/ICMBio, 2012

 

Tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla

Estado de conservação: Vulnerável (ICMBio, 2014)

Outros nomes populares: tamanduá-cavalo, tamanduá-açú, jurumi e bandurra.

Tamanduá-bandeira. Foto: Instituto Jurumi

O tamanduá-bandeira tem baixa taxa metabólica e temperatura corporal, utiliza o ambiente para controle térmico, assim a espécie pode ser ativa ao longo do dia e da noite, dependendo da temperatura e das chuvas. Se alimentam de formigas e cupins. São animais solitários, com exceção no período reprodutivo, quando formam casais e quando as mães carregam o filhote no dorso por cerca de seis a nove meses. O cuidado parental prolongado, bem como o longo período gestacional e ninhadas pequenas torna a espécie sensível à impactos ambientais. No Brasil a espécie só não ocorre nos Pampas, e está ameaçada em diversos estados brasileiros, sendo considerada rara ou provavelmente extinta no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Na Caatinga existem poucos registros confirmados para a espécie. Fonte: Plano Nacional para Conservação das espécies ameaçadas, ICMBio, 2023

 

Mocó (Kerodon rupestris) 

Estado de conservação: Vulnerável (ICMBio, 2014)

 

Este roedor endêmico da Caatinga e de tamanho grande, pode atingir até 40 cm de comprimento, e em alguns casos, pesar até 1kg, , tornando-se um grande alvo da caça. Possui pelos densos e macios e uma coloração que varia do amarelo-acinzentado ao alaranjado, com a parte inferior de tonalidades brancas. Herbívoro, sua principal fonte de alimentação é a casca de árvores. Tem um tempo de vida médio na natureza de 06 a 08 anos.  A população de Mocós teve redução de 30% nos últimos 30 anos. Fonte: National Geographic

De acordo com dados do livro vermelho do ICMBio, o grande volume de atividades agropecuárias é o principal fator de ameaça para as espécies da Caatinga, seguido por caça/captura, que afeta principalmente as espécies utilizadas para alimentação como o queixada (Tayassu pecari), o tatu-bola (Tolypeutes tricinctus) e o mocó (Kerodon rupestris). Confira no gráfico abaixo:

 

A expansão de atividades agropecuárias representa o principal fator de pressão para as espécies da Caatinga. Fonte: Livro vermelho ICMBio.

 

Felizmente, a quantidade de ações de conservação para as espécies ameaçadas tem aumentado. Hoje já existem diversos programas de conservação para algumas presas naturais das onças, como o programa de proteção Peccary Pecari, que atua em favor dos queixadas, Instituto Jurumi que atua pela conservação da natureza, em prol dos tamanduás-bandeira e o INCAB.Brasil, projeto do Instituto Ipê que promove a conservação das antas brasileiras. Este, Inclusive conta com uma iniciativa extraordinária: “Em busca da anta perdida” uma expedição que busca indícios históricos e investiga a possibilidade de ocorrência da anta na Caatinga (em 2024 está na fase 2 do projeto) . Esses são alguns dentre outros inúmeros programas que assim como o Programa Amigos da Onça (PAO), lutam em favor da conservação da biodiversidade brasileira.

É essencial que esses trabalhos sejam expandidos e fortalecidos. O envolvimento da comunidade, políticas de conservação e apoio financeiro são fundamentais para que se possa restaurar o equilíbrio ecológico dos ecossistemas impactados por atividades antrópicas. E você, que tal juntar-se a nós nesse desafio? Você pode colaborar com uma doação financeira (pix:programaoncas@procarnivoros.org.br ) ou de outras formas, saiba mais nesse link!

 

Escrito por: Alice M. G. Dórea (Estagiária voluntária do PAO)

 

 

 

 

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